quarta-feira, 2 de abril de 2014


As mazelas do Bairro do Recife

A segunda reportagem da série sobre problemas urbanos em áreas com potencial de visitação turística durante a Copa mostra as dificuldades do Recife Antigo



 / Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1998, o Bairro do Recife, o mais antigo da cidade, é um destino turístico da Copa do Brasil. Mas, entre os casarões restaurados do lugar, onde nasceu a capital pernambucana, há prédios deteriorados, cercados por tapumes podres e caindo aos pedaços.
Um deles encontra-se na Rua do Bom Jesus – a Rua dos Judeus no século 17 –, a poucos metros de distância da Primeira Sinagoga das Américas, ponto turístico do Bairro do Recife. Construído em 1636, o templo judaico foi restaurado em 2001, reaberto ao público como museu e recebe, em média, 1.400 visitantes por mês.
O prédio vazio e avariado, de três pavimentos, quase na frente da sinagoga, tem uma bandeja de madeira na fachada, para proteção dos pedestres, porque o reboco estava despencando na calçada. Porém, o aparato está quebrado. Sem manutenção, a madeira apodreceu.
É a mesma situação de um edifício de sete pavimentos na Rua da Guia, esquina com a Avenida Barbosa Lima. “A tábua podre é um perigo, ela não consegue sustentar o reboco que cai do prédio. Qualquer dia desse, um pedaço de pedra pode se soltar e atingir alguém na calçada”, alerta o manobrista Ed Carlos Gomes.
Ele trabalha no bairro há 22 anos e usa uma sala do prédio da Rua da Guia, no térreo, como depósito. Apesar de interditada pela prefeitura, por causa das condições precárias da edificação, duas lojas funcionam no andar térreo.
No mesmo quarteirão, na esquina da Rua Domingos José Martins com a Avenida Barbosa Lima, a calçada de um imóvel em mau estado de conservação está obstruída por carroças de vendedores ambulantes. Segunda-feira passada, havia barracas (uma delas apoiada em tijolos), cavaletes e bancos no passeio público. Além de uma carroça presa ao poste, por uma corrente.
Bandejas de madeiras podres, quebradas e se soltando também são vistas em duas edificações sem uso, da Rua Vigário Tenório. Numa delas, as madeiras fincadas na calçada, para suporte da proteção, estão cheias de pregos enferrujados. A 71 dias da abertura do mundial de futebol, é praticamente impossível fazer a restauração dos imóveis. “Mas a prefeitura poderia exigir dos proprietários novas bandejas”, diz Vicente Farias, do ramo de turismo.

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Série mostra as mazelas do Bairro do Recife, um dos pontos turísticos da capital pernambucana.
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Chefe de Divisão da 1ª Regional da Secretaria-Executiva de Controle Urbano (Secon), André Barbosa disse que a proprietária do prédio da Rua da Guia recebeu notificação para providenciar, de imediato, a troca da bandeja. O descumprimento leva à cobrança de multa, num prazo de sete dias. “Também solicitamos a recuperação do edifício”, diz. Ele não soube informar se os outros proprietários foram acionados para substituir as madeiras podres.
Ronaldo Mendes trabalha no prédio interditado da Rua da Guia e aponta outro problema: lixo nos passeios públicos. “A partir das 14h, restaurantes despejam sacos com restos de comida na calçada. Carroceiros abrem, catam comida para animais e espalham a sujeira”, diz.
“Moro no Recife há três anos e o despejo de lixo nas ruas é uma das ressalvas que faço à cidade”, declara a advogada Clarice Viana, de Santa Catarina. “Há poucas lixeiras, mas a falta de educação ambiental das pessoas é muito grande. O Recife vai passar vergonha na Copa, por causa do lixo”, acrescenta.
“Há poucas lixeiras, mas a falta de educação ambiental das pessoas é muito grande. O Recife vai passar vergonha na Copa, por causa do lixo
”advogada Clarice Viana, de Santa Catarina, moradora do Recife há três anos
O chefe do Setor de Fiscalização da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), para a área central da cidade, Ronaldo Lima, informa que o Bairro do Recife é atendido por coleta diária, no turno da noite. “Aplicamos multas, quando há flagrante, e fazemos trabalhos educativos, porém não podemos botar fiscalização permanente”, argumenta.
De acordo com Ronaldo Lima, os sacos de lixo deveriam ser colocados na calçada a partir das 18h, horário de início da coleta. “O erro é do dono do restaurante, a quem falta conscientização”, critica. “Durante a Copa, é isso o que o visitante vai ver”, lamenta o trabalhador Ronaldo Mendes. Não só na Rua da Guia, mas nas Ruas da Moeda, Mariz e Barros e Vigário Tenório.

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