Taça das Favelas vira vitrine e termina marcada
por polêmica com goleiro do ‘asfalto’
Na Taça das Favelas, o talento é servido na bandeja. Celeiros de revelações, a competição atrai olheiros dos clubes grandes do Rio de Janeiro e o sucesso significa alimentar o sonho de ser jogador profissional. Hoje, às 9h, Cidade de Deus e Vila Kenedy fazem a final, às 9h, em Conselheiro Galvão, de uma edição marcada pela busca do brilho a qualquer preço, o que gerou polêmica. A ponto de jovens de classe média se infiltrarem em comunidades para ter o direito de jogar e — com sorte e competência — ser fisgado por um olheiro.
Loiro, alto, de olhos claros, o goleiro do Morro da Coruja,se destacou na vitória de 1 a 0 sobre a Favela do Sapo (1 a 0), dia 21 de janeiro. Interpelado, o garoto informou que morava no Recreio. Ao constatar a irregularidade, o coordenador da Central Única das Favelas (CUFA), Celso Athaíde, convocou as demais comunidades e o time de São Gonçalo foi eliminado e rebaixado da competição, e sua comissão afastada.
O episódio gerou um ataque virtual ao goleiro, que teve sua página em uma rede social infestada de comentários depreciativos. O pai do jovem pediu para não ter seu nome nem do filho divulgados por causa disso. Mas se defendeu, dizendo que foi feito um convite e eles aceitaram, assim como outros jovens de classe média o fazem em equipes de outras comunidades. Ele acusou a organização de preconceito.
— Se meu filho fosse escurinho, não tinham encostado ele na parede. Houve preconceito racial — reclamou o pai, dizendo que conhece outros jovens de classe média que jogam o torneio.
— Os melhores jogadores não são das comunidades. Então tem que eliminar uns dez times. Não tentamos enganar ninguém — disse.
Celso Athayde lembrou que houve reuniões em que ficou proibida a entrada de jogadores do “asfalto”. Em uma delas, teria sido aberta uma exceção para três atletas de outras comunidades. O treinador do Coruja, José Claudio, disse que foi falado em três de “qualquer lugar”. O torneio não tem regulamento por escrito.
— Quando a CUFA criou o torneio, não pensou no filho do Luciano Huck. É para as pessoas que não conseguem pagar uma escolinha, comprar chuteira. É um absurdo deixar um menino de fora para colocar filho de madame porque é melhor que ele. O projeto não é para quem joga bem. É projeto social. E tem recorte — disse Celso.
Na busca por um lugar ao sol, sob acusações, a Taça das Favelas chega ao fim conhecendo o ônus e bônus do sucesso.
Representante diz que goleiro foi indicado
O goleiro excluído jogava no time da Portuguesa da Ilha do Governador. Jovens federados em equipes menores do Rio, como Audax, também são escalados. A indicação foi feita ao representante da Coruja, Jorge Alves, que também treina as meninas.
— Um goleiro que treina comigo disse que ele morava em comunidade. A gente só soube no dia do jogo. Não sabia que ele morava no Recreio — conta Jorge.
O técnico José Claudio, que tem projeto social na comunidade, diz que não houve má-fé da comissão e desabafa contra sua exclusão:
— Se houvesse, pegava comprovante de alguém e dizia que era dele. Como vou cobrar as crianças a fazerem o certo agora?
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